quarta-feira, outubro 26


"... essa era a minha vida: uma criatura fraca e aos pedaços, que vivia adorando a unidade da sua força ..." (*)

Essa frase me veio a cabeça de repente, assim quase sem porquê.
Foi dita por uma amiga em meio a uma cena, exercício de interpretação na escola de teatro. Muito tempo atrás. 1998. E lá se vão sete anos.
Essa frase me bateu fundo na época, disso eu lembro bem. A identificação foi imediata.
É que eu tinha compreendido que era assim minha relação com as pessoas. Eu amava por projeção. Amava nos outros o que eu não tinha. O que eu gostaria de ser. Amava não por amar, mas por desejar ser.
Cometi alguns equívocos assim. Grandes sentimentos que me tiravam do eixo e, no mais das vezes, davam em nada. Isso no mínimo. Quando não me atropelavam e me custavam precioso tempo para me recuperar.
Só que não me arrependo. Parece-me estranho e insensato pensar que poderia ter sido diferente.
É que aprendi tanto com isso. Acho mesmo que é graças a esses pequenos-grandes deslizes sentimentais que hoje eu sei amar diferente.
Porque hoje eu amo as pessoas pelo que elas são. Amo as coisas boas que elas têm. E as ruins também, porque já não me dou mais o luxo de acreditar em perfeição. Ainda bem.
E descobri que amar assim é muito maior, muito mais intenso, muito mais verdadeiro. E que a gente se entrega muito mais. Vive muito mais.
Que quando a gente ama o outro do jeito que é, aceitando cada pedaço, cada traço e cada porém, é que a gente está amando de verdade. Amando de doação. Porque o resto é egoísmo. Querer do outro o que não se tem.
E aí, de susto, vi que essa frase virou apenas um trecho. Um amontado de palavras belamente combinadas, mas que não me encontra mais.
Que eu aprendi com a vida, e que hoje carrego em mim mesma tudo o que sou e tudo o que quero ser.
E o mais incrível é perceber que não pesa.
Aliás, pelo contrário.
É muito mais leve assim.

(* perdoem-me, mas não sei de que peça é esse trecho, muito menos quem é o autor... sorry!!)