segunda-feira, maio 29

era uma vez


Certas coisas na vida são de um jeito e pronto, são.
Não adianta brigar, acreditar, correr atrás. Elas não mudam. Seguem seu caminho, o mesmo que sempre foi. O tempo passa, todo o resto muda, mas certas coisas apenas permanecem.
E faz parte da vida a gente aprender a aceitar essas coisas. Aceitar que, por mais que a gente deseje que seja diferente, certas coisas apenas seguem sendo, como sempre foram. Talvez seja o grande gesto de generosidade, humildade diante do curso da vida, imenso demais para caber na palma das nossas mãos. Talvez seja o desprendimento de estender os braços e deixar que vá. Que siga por onde tiver que seguir e cumpra sua jornada, seja ela qual for.
Eu, por ser quem sou e como sou, acho difícil demais aprender a agir assim. Porque eu, por definição, acredito, e não desisto. É um vício danado, esse da fé. E é meio assim que eu sou, alimentando sempre, mesmo que secretamente, a esperança do 'final feliz'.
O problema é que nem sempre ele vem. Ou vem, mas não é exatamente do jeito que a gente esperava.
Mas talvez (talvez) nem por isso deixe de ser feliz.
É, talvez.

sexta-feira, maio 26

de amor e de sombras

"Se eu fosse um livro, contaria a história de um homem e uma mulher. Logo no primeiro capítulo, eles se encontram e se apaixonam. No segundo, a paixão vira amor mas não deixa de ser paixão. No terceiro, o amor vira amizade mas não deixa de ser amor e paixão. E esse livro terminaria em um quarto, onde eles se transformariam em um só mas não deixariam de ser dois."
(Antoine de Saint Exupéry)

Encontrei essa frase hoje.
Ou ela me encontrou, porque era exatamente o que eu queria ler hoje.
Li, senti, compreendi. Lá, bem de dentro.
Amor, é pra você.


quinta-feira, maio 25



Esperança. Ô palavra bonita essa.
Mais bonita ainda quando não é só palavra. Quando passa a presença viva dentro da gente. Fazendo ninho e crescendo de dar gosto.
É só alimentá-la um pouquinho. Ela não precisa de muito, não.
Um afago aqui e ali, ar puro, um tanto de doçura e água cristalina. E já basta.
Esperança é coisa delicada, mas quando se planta é duro de arrancar.
Ainda bem.

terça-feira, maio 23

de agora em diante



É que a estrada nem sempre é fácil, e o medo é parte indissociável da caminhada humana. E quando a gente cai e quebra a cara no chão, fica com medo de seguir adiante, porque a próxima queda talvez seja fatal.
É que a gente luta por coisas que valem a pena, a gente não desiste quando o que está em jogo é tão importante. Mas a força e a esperança são matérias finitas, infelizmente. E o meu medo é que chegue a hora de desistir. Que não quero desistir.
É que quando as nuvens ficam assim tão cinzas e apagam o sol, a gente perde a energia. E fica tristinho, amuado num canto, assim sem vontade de erguer os olhos porque parece que não tem nada para ver.
É que às vezes a gente perde mesmo a coragem, se esconde por trás de uma montanha de defeitos e complicações, sem perceber que pode fugir de tudo, mas nunca de nós mesmos. Ou de quem vive dentro da gente.
É que a vida tem horas que é uma complicação mesmo, assim como um labirinto que a gente nunca que encontra a saída. Mas é nessas horas que a gente precisa erguer a cabeça e enxergar o infinito, porque ver além das paredes e barreiras é matéria de sonho, alimento para a alma.
É que acordei sem saber por que caminho ir. Por aqui ou por ali. De repente, o medo de que nenhum dos dois me leve aonde eu quero ir.
É que de susto percebi que estou longe de ter todas as respostas. Se nem todas as perguntas eu sei quais são.
Fosse eu um avestruz, podia pelo menos enfiar a cabeça debaixo da terra. Sendo eu essa pessoa confusa e atrapalhada, nem isso eu tenho.
Só eu e esse monte de nós a desatar.

O último a sair, favor apagar a luz.

segunda-feira, maio 22

o que será que será



Fecho os olhos e agradeço que tantos desejos cismem encontrar a mim como lar.
Não consigo imaginar a vida de outro jeito.
Sou um ser cheio de vontades.
Ainda bem.

sexta-feira, maio 19

é pique, é pique, é pique!!

Um ano. Sim, um ano.
365 dias. 8760 horas. 525600 minutos. Uma infinidade de segundos, milésimos e infinitésimos.
Um ano desde que nossas pimentinhas chegaram e a vida se fez outra. Um ano desde que recebemos em nossos braços duas pequenas coisinhas delicadas e compreendemos o sentido de tudo.
Há um ano, eu curtia cada contração aqui mesmo, no quarto ao lado desse em que estou.
Há um ano, eu descobria o prazer de uma sensação que não deveria ser chamada de dor, tão infinito e particular é o seu sentido.
Há um ano, eu fazia força nesse mesmo escritório de onde escrevo, acreditando que já chegara a hora de receber nossas pimentinhas nesse mundo.
Há um ano, eu me entupia de água de coco para me dar energia, porque não tinha vontade de colocar nada na boca.
Há um ano, eu segurava nas mãos do Re, fixava meus olhos nos seus e descobria um amor e um companheirismo tão imensos, intensos como eu jamais poderia imaginar encontrar em alguém.
Há um ano, ele respirava comigo a cada contração e sorria cúmplice, num esforço sobre-humano para deixar de lado a própria ansiedade, os próprios medos.
Há um ano, eu tomava a difícil decisão (até hoje, a mais difícil que já tomei na vida) de ir para o hospital para que minhas meninas nascessem.
Há um ano, fazíamos o trajeto casa-hospital em meia hora, eu com o Re no banco de trás do carro, apertando e mordendo a mão dele a cada contração.
Há um ano, cruzávamos o salão da recepção do hospital Santa Catarina, eu com um vestidinho hippie três números maior que o meu, descabelada até o último fio, xingando e me acocorando a cada contração e virando a atração do dia.
Há um ano, eu dedicava o que me restava de energia à tentativa de trazer minhas filhas ao mundo de forma natural, fazendo uma força inacreditável a cada contração, e superando todos os meus limites e medos, porque aquilo era a coisa mais importante do mundo para mim.
Há um ano, eu ouvia Dr. Jorge dizer que precisaria dar 'uma ajudinha' para elas nascerem, fazendo um fórceps de alívio.
Há um ano, eu chorava meu choro mais verdadeiro, minhas lágrimas mais doloridas, vendo desmoronar um sonho tão acalentado, tão desejado e tão batalhado.
Há um ano, eu deitava numa cama de hospital depois da peridural e tentava me comunicar com minhas meninas, pedindo que não perdessem a confiança em mim e que me perdoassem pelo nascimento que não tiveram, porque eu havia tentado tudo o que podia.
Há um ano, eu recebia minha pequena Ana Luz nos braços, olhos de jaboticaba bem abertos, atenta para o mundo e tocando meu seio com suas mãozinhas pequeninas e curiosas.
Há um ano, eu recebia nos braços uma Estrela miudinha, pequenina, que chegou ao mundo já berrando a plenos pulmões, um pequeno milagre delicado e frágil, que se debatia assustado sobre meu peito.
Há um ano, eu apertava minhas meninas contra meu peito, acariciava suas cabecinhas melecadas e me permitia ser feliz, porque elas eram lindas, eram perfeitas, eram um sonho tornado realidade.
Há um ano, eu beijava seus rostinhos delicados com toda a ternura de que um ser humano é capaz, fechava os olhos e agradecia à vida por me dar um presente tão infinito.
Há um ano, eu vivenciava ao mesmo tempo uma dor imensa e a maior alegria que posso imaginar existir.
Há um ano, eu chorava de frustração pelo parto que não tive, e sentia o coração pequenino ao pensar em tudo o que sonhei mas não pude viver.
Há um ano, eu chorava de alegria por ter minhas pimentinhas nos braços, porque depois de nove meses eu finalmente podia vê-las e tocá-las, porque elas eram lindas, saudáveis e perfeitas, e apesar de tudo, tinham nascido de parto normal, o que já era uma vitória imensa para quem esperava gêmeas no meio da quadragésima primeira semana de gestação.

Nesse um ano, eu ganhei o maior presente que se pode desejar: uma vida nova.
Nesse um ano, eu aprendi sobre o amor, sobre a delicadeza, sobre a entrega.
Nesse um ano, eu descobri que os caminhos que vivemos na vida não são nossos, não totalmente.
Nesse um ano, eu deixei para trás tudo o que já havia sido até então, para descobrir em mim uma Renata mais forte, mais plena, mais capaz. Apesar de tudo.
Nesse um ano, eu me descobri mãe. Me descobri inteira. Descobri o melhor de mim, que nasceu para elas.
Nesse um ano, eu aprendi que a vida é muito maior do que eu jamais havia imaginado.
Nesse um ano, eu descobri que a vida não tem limites. E o amor também não.

Obrigada, minhas pequenas. Pela Renata que sou hoje, muito maior, muito melhor, graças a vocês. Pela vida que me trouxeram de presente. Pelos lindos sentimentos que me ensinaram a sentir.
Por cada dia desse um ano. E por cada passo dos muitos e muitos anos que ainda caminharemos juntas.
Ser mãe de vocês é a experiência mais infinita do mundo. E é muito, mas muito mais do que eu ousaria desejar.

Parabéns, minhas vidas. Parabéns.

terça-feira, maio 16

Mãe aquariana (21/1 a 19/2)
"De egoísta, ela não tem nada: uma mãe aquariana ensina a viver em grupo e pensar na coletividade. Ela segue à risca os três preceitos da Revolução Francesa - igualdade, liberdade e fraternidade -, mas talvez pareça um pouco indiferente às necessidades subjetivas dos filhos. Inovadora, desprendida e meio extravagante, está sempre um pouco à frente das mulheres de seu tempo. Como confia em suas idéias originais, pode tentar impô-las. De qualquer modo, acaba estimulando na prole o sentimento de que vale a pena se desgarrar do que é velho e se abrir para o desconhecido, sem preconceitos nem regras preestabelecidas. Quem cresce no lar de uma aquariana descobre que respeitar o próximo e conviver pacificamente com as diferenças não é uma utopia política, mas uma possibilidade concreta."

Encontrei aqui. Uma matéria falando sobre as características das mães de cada signo. Uma bobagem, mas tem coisa que bate. Essa descrição acima, por exemplo, bate quase que perfeitamente com a minha mãe, aquariana indisfarçável de 27 de janeiro. O 'quase que' é graças ao trecho "... indiferente às necessidades subjetivas dos filhos.". Aí, a descrição erra feio, pelo menos no que diz respeito à minha mãe. De resto, é tudo na mosca. Especialmente a última frase (grifo meu), que parece ter sido escrita especialmente para a 'Dona' Lili.

Abaixo, a descrição da mãe leonina (euzinha, leonina convicta de 19 de agosto, e com muito ogulho!). Ainda é cedo para saber se as características vão bater ou não. Minhas pimentinhas o dirão, daqui a alguns anos.

Mãe leonina (2/7 A 22/8)
"Regida pelo coração, a imperiosa mãe leonina ensina a importância do amor e da arte para viver bem. Como seu poder de invenção é ilimitado, ela indica quanto é fundamental buscar a auto-realização e desenvolver a individualidade de forma criativa. Vira e mexe, sua face exigente vem à tona, com o intuito de motivar e direcionar a vontade da prole. Tal qual uma leoa na selva, gosta de dar ordens e tenta governar todo mundo, mas, alguns minutos depois, surpreende a família transformando o orgulho em humildade. Nesse momento, aprende-se que muitas rusgas podem ser esquecidas com abraços, beijos, pedidos de desculpas e declarações apaixonadas. Isso não quer dizer que ela desista de sua habitual firmeza: é sua estratégia favorita, que permite ao filhote revelar a própria força e assumir plenamente o próprio destino."

Será??

segunda-feira, maio 15

meus caros amigos




"... aqui na terra tão jogando futebol
tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
uns dias chove, noutros dias bate sol

mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

muita careta pra engolir a transação
e a gente tá engolindo cada sapo no caminho
e a gente vai se amando que, também, sem um carinho
ninguém segura esse rojão... "

Ainda bem que pelo menos isso a gente tem, e ninguém pode tirar.
Bom, pelo menos por enquanto.

Letra: Chico Buarque / Francis Hime

não é paz, é medo



Sim, ontem foi dia das mães.
Sim, meu primeiro dia das mães com minhas pimentinhas fora da minha barriga.
Sim, eu tinha milhares de coisas maravilhosas para dizer e lindas palavras sobre ser mãe.
Sim, eu havia pensado em uma infinidade de coisinhas a dizer à minha mãe.
Sim, sim, sim.

Mas não. Não vou falar nada, não.
Esse absurdo que a gente está vivendo aqui e esse clima de terror não me deixou vontade de dizer nada.
Vou mesmo é ficar em silêncio. E rezar, se a inspiração vier. Do meu jeito.
Que não tenho vontade de mais nada.

quinta-feira, maio 11

Partindo do Princípio



Rede de mulheres faz ação pública pelo parto normal em seis capitais no Dia das Mães

No mês em que se comemora o Dia das Mães e a Semana Mundial de Respeito ao Nascimento, a rede Parto do Princípio, que reúne 200 ativistas em 13 estados brasileiros, vai às ruas para homenagear as mães brasileiras e incentivar uma nova forma de gestar, parir e nascer. A ação coordenada acontece no sábado, dia 13 de maio, em São Paulo (Parque Ibirapuera – das 14:30 às 17 hs), Rio de Janeiro (Parque dos Patins – das 11 às 14 hs), Recife (Parque da Jaqueira – das 15:30) e Porto Alegre (Parque da Redenção – das 11 às 13 hs). Em Salvador o evento ocorrerá no final da passarela que liga a Rodoviária com o Shopping Iguatemi, ocorrendo em frente a entrada do mesmo, das 12:00 hs as 13:30 hs, marcando, também, o lançamento do Núcleo Salvador do Parto do Princípio, que atenderá pelo telefone (71) 3334-5346. O evento terá a participação da Dep. Estadual Lidice da Mata. As ativistas estarão vestidas com a camiseta da Parto do Princípio e vão dar um presente para as mulheres em homenagem ao Dia das Mães. Haverá também a distribuição de panfletos de incentivo ao parto normal ativo e protesto contra o uso indiscriminado da cesariana no Brasil.
A ação também divulgará o novo site da rede (
http://www.partodoprincipio.com.br/), que reestréia esta semana totalmente reformulado: novo layout, novos artigos (que exploram a fundo a questão da dor do parto), novas seções (notícias, relatos de partos, entre outras) e uma entrevista exclusiva com Renata Dias Gomes, neta de dois gênios da dramaturgia brasileira, Janete Clair e Dias Gomes. Ela fala sobre seu parto natural hospitalar, seu ativismo pró-parto-normal e a vida como roteirista de telenovelas.
O novo site está lançando ainda a Campanha pelo Fim da Taxa do Acompanhante nas Maternidades Particulares, que pretende levar um abaixo-assinado ao Congresso Nacional, pedindo que a Lei do Acompanhante (recém-aprovada para o SUS, garantindo a presença acompanhante no momento do parto) passe a valer também para os hospitais privados, sem custos para a gestante.
A ação pública e o novo site representam a participação ‘antecipada’ da Parto do Princípio na Semana Mundial de Respeito ao Nascimento, promovida pela ONG francesa AFAR (
http://www.smar.info/), que acontece de 15 e 21 de maio, em diversos países da Europa e na Argentina. O objetivo geral do movimento é protestar contra o uso excessivo de intervenções médicas no momento do nascimento, os desnecessários protocolos hospitalares e a industrialização do processo de nascimento.


Ficha Técnica

SÃO PAULO
Local: Parque do Ibirapuera – Praça do Porquinho – portão 6
Horário: das 14:30 às 17 hs
Atrações: Cris Balzano promoverá um alongamento ou yoga para gestantes no parque

RIO DE JANEIRO
Local: Parque dos Patins - Lagoa
Horário: de 11:00 às 14:00
Atrações: Apresentação de dança de um grupo de gestantes da Casa de Parto de Realengo

RECIFE
Local: Parque da Jaqueira
Horário: de 15:30 às 17:00

PORTO ALEGRE
Local: Parque da Redenção
Horário: de 11:00 às 13:00
Atrações: estarão o dia todo no parque da Redenção com uma barraquinha juntamente com a Rehuna

SALVADOR
Local: Em frente ao Shopping Iguatemi, final da passarela entre a Rodoviária e o Shopping Horário: de 12:00 às 13:30



Eu vou estar lá. Eu, maridão e as pimentinhas. Partindo desse princípio maravilhoso.
Quem quiser partir com a gente, estamos de braços abertos.

terça-feira, maio 9

de pequenos grandes momentos



... alguém me explica como é que um sorriso tão pequenino pode conter todo o universo?

terça-feira, maio 2

medo s.a.

Achei, remexendo em uns papéis antigos, uma coisa que escrevi há quase dez anos atrás, lá pra 1998. Tinha 19 anos. Era uma fase intensa, fazia muito teatro, descobria milhões de coisas, aprendia a olhar para mim. Fazia terapia, crises recorrentes, algumas respostas e muitas perguntas. A vida era, sim, um bicho de sete cabeças. Lindo, colorido, complicado e doloroso.
Sei lá o que me fez, naquele momento, pegar esse papel e escrever. O fato é que fui listando, um a um, todos os medos que eu tinha. E não eram poucos. Abaixo, o que eu escrevi naquela época:

Eu tenho medo... do que eu não conheço; da dor; da morte; da perda; de não sonhar; de sonhar e não realizar; de estar só; de estar com alguém; de falar o que penso; de ser julgada por isso; de ser condenada; de não ter nada nas mãos; de não saber o que fazer com o que eu tenho nas mãos; de ficar doente; de me entregar; de não deixar ninguém me conhecer de verdade; da despedida; da mudança; do novo; de ficar velha; de ver o tempo passar; de ficar parada no tempo; de me mover e me machucar; de não conseguir; de não tentar; de criar uma máscara; de me defender; de não me defender; de olhar e ver; de olhar e não ver; de sentir; de me expor; de ser olhada; de ter que provar do que sou capaz; de perder a esperança; de olhar para trás; do arrependimento; de barata; de sofrer; de ser feliz; de que as coisas acabem; de mariposa; de besouro; de tubarão; do infinito; de não compreender; de compreender mais do que eu posso suportar; de fugir; de ficar para trás; de ser esquecida; de mar; de não ser amada; de não ser aceita; de errar; de cair; de não conseguir levantar; de perder a fé; de não ter mais vontade; de encarar os fatos; de me conhecer; de conhecer os outros; de não me reconhecer; de estar infeliz; de estar feliz e inconsciente; de ter mais consciência do que eu suporto; de explodir; de amar; de não amar; de desistir; de persistir e não conseguir; de persistir, conseguir e ver que não era nada daquilo; do fim; de me perder; de não querer mais; de me iludir; de ser enganada; do abismo; de ser pressionada; de ser descoberta; de não ser tocada; de não ter uma mão para segurar; de seguir em frente; de recuar; de atacar; de lutar; de que o medo me paralise.

É um barato olhar para essas palavras rabiscadas depois de tanto tempo e relembrar um pouco de quem eu era. E ver quantos medos eu superei e deixaram de fazer sentido. E quantos outros eu ainda tenho e talvez nunca supere, por mais que tente. E garimpar, entre tantos medos, alguns que reconheço como parte fundamental de quem eu sou, pelos quais arrisco até sentir certa ternura e carinho.
É fantástico compreender, depois de tanto tempo, que alguns medos foram feitos para ser superados e outros não. Que o medo faz parte da caminhada humana, e o que importa não é a quantidade de medos que a gente tem, mas como aprende a lidar com eles. E o caminho que encontra para que eles não nos paralisem.
Bom saber que venho descobrindo meu caminho. Que tem desvios, tem barreiras, tem perigos. Mas que é o meu caminho. Que me ensina a ser quem eu sou, a cada passo e cada curva desvendada.
Bom saber que a vida não tem mais sete cabeças. Ainda assusta, às vezes. Mas eu já aprendi a não me esconder.
É que, hoje, precisa muito mais do que sete cabeças e um punhado de crises para me fazer recuar.
Muito, muito mais.