sexta-feira, maio 19

é pique, é pique, é pique!!

Um ano. Sim, um ano.
365 dias. 8760 horas. 525600 minutos. Uma infinidade de segundos, milésimos e infinitésimos.
Um ano desde que nossas pimentinhas chegaram e a vida se fez outra. Um ano desde que recebemos em nossos braços duas pequenas coisinhas delicadas e compreendemos o sentido de tudo.
Há um ano, eu curtia cada contração aqui mesmo, no quarto ao lado desse em que estou.
Há um ano, eu descobria o prazer de uma sensação que não deveria ser chamada de dor, tão infinito e particular é o seu sentido.
Há um ano, eu fazia força nesse mesmo escritório de onde escrevo, acreditando que já chegara a hora de receber nossas pimentinhas nesse mundo.
Há um ano, eu me entupia de água de coco para me dar energia, porque não tinha vontade de colocar nada na boca.
Há um ano, eu segurava nas mãos do Re, fixava meus olhos nos seus e descobria um amor e um companheirismo tão imensos, intensos como eu jamais poderia imaginar encontrar em alguém.
Há um ano, ele respirava comigo a cada contração e sorria cúmplice, num esforço sobre-humano para deixar de lado a própria ansiedade, os próprios medos.
Há um ano, eu tomava a difícil decisão (até hoje, a mais difícil que já tomei na vida) de ir para o hospital para que minhas meninas nascessem.
Há um ano, fazíamos o trajeto casa-hospital em meia hora, eu com o Re no banco de trás do carro, apertando e mordendo a mão dele a cada contração.
Há um ano, cruzávamos o salão da recepção do hospital Santa Catarina, eu com um vestidinho hippie três números maior que o meu, descabelada até o último fio, xingando e me acocorando a cada contração e virando a atração do dia.
Há um ano, eu dedicava o que me restava de energia à tentativa de trazer minhas filhas ao mundo de forma natural, fazendo uma força inacreditável a cada contração, e superando todos os meus limites e medos, porque aquilo era a coisa mais importante do mundo para mim.
Há um ano, eu ouvia Dr. Jorge dizer que precisaria dar 'uma ajudinha' para elas nascerem, fazendo um fórceps de alívio.
Há um ano, eu chorava meu choro mais verdadeiro, minhas lágrimas mais doloridas, vendo desmoronar um sonho tão acalentado, tão desejado e tão batalhado.
Há um ano, eu deitava numa cama de hospital depois da peridural e tentava me comunicar com minhas meninas, pedindo que não perdessem a confiança em mim e que me perdoassem pelo nascimento que não tiveram, porque eu havia tentado tudo o que podia.
Há um ano, eu recebia minha pequena Ana Luz nos braços, olhos de jaboticaba bem abertos, atenta para o mundo e tocando meu seio com suas mãozinhas pequeninas e curiosas.
Há um ano, eu recebia nos braços uma Estrela miudinha, pequenina, que chegou ao mundo já berrando a plenos pulmões, um pequeno milagre delicado e frágil, que se debatia assustado sobre meu peito.
Há um ano, eu apertava minhas meninas contra meu peito, acariciava suas cabecinhas melecadas e me permitia ser feliz, porque elas eram lindas, eram perfeitas, eram um sonho tornado realidade.
Há um ano, eu beijava seus rostinhos delicados com toda a ternura de que um ser humano é capaz, fechava os olhos e agradecia à vida por me dar um presente tão infinito.
Há um ano, eu vivenciava ao mesmo tempo uma dor imensa e a maior alegria que posso imaginar existir.
Há um ano, eu chorava de frustração pelo parto que não tive, e sentia o coração pequenino ao pensar em tudo o que sonhei mas não pude viver.
Há um ano, eu chorava de alegria por ter minhas pimentinhas nos braços, porque depois de nove meses eu finalmente podia vê-las e tocá-las, porque elas eram lindas, saudáveis e perfeitas, e apesar de tudo, tinham nascido de parto normal, o que já era uma vitória imensa para quem esperava gêmeas no meio da quadragésima primeira semana de gestação.

Nesse um ano, eu ganhei o maior presente que se pode desejar: uma vida nova.
Nesse um ano, eu aprendi sobre o amor, sobre a delicadeza, sobre a entrega.
Nesse um ano, eu descobri que os caminhos que vivemos na vida não são nossos, não totalmente.
Nesse um ano, eu deixei para trás tudo o que já havia sido até então, para descobrir em mim uma Renata mais forte, mais plena, mais capaz. Apesar de tudo.
Nesse um ano, eu me descobri mãe. Me descobri inteira. Descobri o melhor de mim, que nasceu para elas.
Nesse um ano, eu aprendi que a vida é muito maior do que eu jamais havia imaginado.
Nesse um ano, eu descobri que a vida não tem limites. E o amor também não.

Obrigada, minhas pequenas. Pela Renata que sou hoje, muito maior, muito melhor, graças a vocês. Pela vida que me trouxeram de presente. Pelos lindos sentimentos que me ensinaram a sentir.
Por cada dia desse um ano. E por cada passo dos muitos e muitos anos que ainda caminharemos juntas.
Ser mãe de vocês é a experiência mais infinita do mundo. E é muito, mas muito mais do que eu ousaria desejar.

Parabéns, minhas vidas. Parabéns.