sexta-feira, novembro 25

Saudade, diga a esse moço por favor...



O Re embarca amanhã à noite. Para a Espanha, a trabalho. E volta no sábado que vem.
E eu já estou aqui, antecipadamente acabrunhada, com o coração em mosaico de tanta saudade. Já.
É nessas horas que eu me pergunto, indefesa diante da grandeza de um sentimento que não se explica, como é que se pode amar tanto. Sentir tanta falta. Precisar tanto.
Não é um precisar de dependência, não. Nada doentio.
É apenas um precisar delicado. Precisar da presença. Do carinho. Do toque. Precisar sentir a pessoa ao lado. Precisar ouvir o som leve da respiração do outro dormindo ao lado e por um instante tocar o sentido da vida.
Eu preciso, sim. Preciso e não tenho medo de admitir. Nem vergonha.
Porque isso não me faz menos. Pelo contrário.
É estar ao lado dele que me faz mais. Sempre mais e mais.

Ele vai, mas volta. Em seis dias.
Seis dias!
Para mim, uma eternidade...

Imagem: http://www.fpam.pt

quinta-feira, novembro 24



Há momentos na vida em que não tem jeito: a gente precisa mesmo 'subir nas tamancas', rodar a baiana e fazer valer o que é nosso direito.
Afe, como cansa ter que fazer esse papel. Eu detesto.
Mas faço. Quando precisa, eu faço.
Deixo voar livre a bruxa má que habita escondidinha dentro de mim. Sim, ela existe.
Fazer o que?


Imagem: http://bruxama.blig.ig.com.br

quarta-feira, novembro 23


"Devo agora falar de mim. Isso seria um passo em direção ao silêncio."

(Samuel Beckett)







Imagem: http://www.nonopp.com/ac

terça-feira, novembro 22

e que a minha loucura seja perdoada

"e agora, José?
a festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta?
e agora, José?
está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho,
já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode,
a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia
e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou,
e agora, José?
e agora, José?
sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca,
sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio – e agora?
com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta;
quer morrer no mar, mas o mar secou;
quer ir para Minas, Minas não há mais.
José, e agora?
se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse a valsa vienense,
se você dormisse, se você cansasse, se você morresse...
mas você não morre,
você é duro, José!
sozinho no escuro qual bicho-do-mato, sem teogonia,
sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?"



Um poema que nunca consegui ler impassível. Sem me deixar derrubar, atropelar, arrebatar.
Bate um desespero, uma urgência, um grito sufocado no peito. Uma vontade colossal de se pôr em marcha, de se entregar ao vento, de viver a vida.
Porque é preciso que se grite. É preciso que se chore. É preciso que se viva.
Qualquer passo bailado que signifique a vida. A entrega.
É que às vezes, quando invade aquela sensação, aquela angústia de andar, andar, e nunca sair do lugar. Sem aviso, a alma definha. Murcha, mesmo.
Eu não estou assim, não. Murchando, acinzentada. Pelo contrário.
Ando até bem contente, bem esperançosa, bem flutuante.
É que a angústia, às vezes, vira para mim quase um passatempo. E rodopiamos, e nos divertimos juntas. Assim, leves, como quem ignora o ritmo implacável da vida.
Acho que aprendi a recebê-la e aceitá-la como uma companheira. A quem se aceita, se recebe e se deixa ir quando é preciso.
De repente, parece que acordei crescida.
E também de repente me parece ressoar ao longe, quase como som que não se quer ouvir, as pequenas-grandes palavras jogadas ao vento e trazidas a mim...
para onde?

Texto: "José", de Carlos Drummond de Andrade
Imagem:
http://www.dhnet.org.br

sexta-feira, novembro 18

divino maravilhoso

Seis meses se passaram. Seis meses em que muita coisa aconteceu, passou, mudou. Muita, muita coisa.
Amanhã, as pimentinhas completam meio ano de vida. E eu nem acredito que já se passou tanto tempo desde que eu recebi aquelas duas criaturinhas tão pequeninas, melecadas e curiosas, aconcheguei-as no meu peito e lhes apresentei o mundo.
O nosso primeiro contato é algo que vou guardar para sempre. Ana Luz com seus lindos olhos de jaboticaba bem abertos e atentos. Estrela, colocando a boca no mundo, preenchendo a sala com seu choro forte e decidido, que me pareceu o som mais lindo entre todos os outros.
Hoje elas estão aí, lindas, espertas, sapecas. Sorridentes, tranquilas. E temperamentais, afinal são filhas de quem são, mesmo.
Vêm me ensinando a cada dia. Mostrando que se pode amar nos limites do improvável. Além desses limites, aliás. Muito além.
Seis meses. É o fim da amamentação exclusiva. Daqui pra frente, amamentação sim, enquanto elas quiserem. Mas exclusividade não. É hora de conhecer o mundo sorvendo suas cores, cheiros e sabores. Experimentar e ampliar possibilidades.
É assim. A vida simplesmente acontece e faz lembrar que o tempo, implacável, passa. Às vezes, rápido demais.
Se por um lado é uma das coisas mais bacanas da vida vivenciar o crescimento de duas criaturinhas maravilhosas que saíram de dentro de mim e hoje existem por si mesmas, por outro não posso negar o aperto gigante no coração. Uma vontade desumana de mantê-las sempre recém-nascidas, sempre pequeninas, miudinhas, frágeis, dependentes. Sempre aninhadas sob minhas asas de galinha-mãe. Minhas bebês, para sempre. Que elas serão, independente de quanto tempo passe. Mas fisicamente, crescem e crescem, e isso não dá para não se ver.
Eu sempre ouvi que os filhos crescem rápido demais e a gente nem vê. Mas nunca pensei que viveria essa sensação tão cedo.
E quando eu penso que é só a primeira papinha, imagino o que será de mim quando vierem as primeiras palavras, os primeiros passinhos, o primeiro dia de escolinha, o primeiro beijo, o primeiro namorado e mais uma infinidade de primeiros e primeiras que aguardam minhas meninas aí pelas esquinas da vida.
Acho que quem fez o mundo errou aí. Mãe não deveria ser um bicho tão sentimental.
Ou deveria.
É. Acho que esse, na verdade, foi o acerto dos acertos.

quarta-feira, novembro 16

Se tem uma coisa que me enche o saco é gente que tem uma atitude no discurso e outra na prática. Que fala demais e faz de menos. Que diz que pensa assim, mas age assado.
Eu sou daquelas pessoas que defende ferozmente o direito do outro ter sua opinião, sua crença, seu modo de ser e fazer. Ainda que seja diferente do meu. Eu acho que cada um sabe o que é melhor para si e deve ter o direito de decidir qual caminho lhe cabe ou não.
O que eu não aguento é hipocrisia. Dizer que acredita em x mas arranjar um jeitinho de acabar fazendo y. Ter um lindo discurso ressaltando as qualidades e vantagens do caminho a, mas na hora da verdade optar mesmo pelo caminho b. Que, aliás, quase sempre é o mais fácil, mais provável e mais previsível.

Desde que as meninas nasceram de parto normal, o que tem de grávida que me procura dizendo que quer um PN e precisa de ajuda para conseguir não está escrito.
A questão é que pouquíssimas querem de verdade. O que chega aqui é aquele discurso velho conhecido de quem anda falando, pensando ou pesquisando sobre parto por aí: 'ai, eu seeeempre sonhei em ter PN', ou 'não consigo me imaginar fazendo uma cesárea sem um motivo claro para isso'. Mas o que tem por baixo do pano é muito diferente. O discurso certo seria algo como: 'olha, eu tenho uma vaaaga preferência por parto normal, mas nem vou pensar muito nisso. Ora, na hora o médico decide!'. Se o discurso fosse sincero e coerente com o que a pessoa efetivamente quer e pensa, eu pelo menos saberia o que esperar. E quanto de energia dispender para ajudar.
Aliás, que fique claro: eu NÃO acho que toda mulher deva fazer parto normal. Eu sou por demais partidária da liberdade para defender uma idéia como essa.
Se uma grávida me chegar agora e disser que já pensou bastante a respeito e decidiu que quer fazer cesárea, ótimo. Podem ter certeza que eu não vou nem me pronunciar a respeito. Vou 'enfiar a viola no saco' e sair de fininho. Porque o que eu acho mais importante em qualquer processo na vida é isso: escolha informada. Pesquisar, aprender a respeito, refletir e, finalmente, decidir o que é melhor para si. Porque cada um é um, mesmo. E o que é bom para mim pode não ser para o outro.
Agora, o que eu não aguento é esse discursinho hipócrita de que quer parto normal, que sabe que é melhor para a mãe e para o bebê, que leu a respeito e sabe perfeitamente o que aceitar ou não do médico, etc. e, na hora H, dizer que fez (ou vai fazer) cesárea porque o bebê está grande demais, porque o cordão está enrolado, porque a bacia é estreita, porque tem uma unha encravada, uma espinha do lado direito do rosto ou o cabelo tingido de acaju e isso pode ser perigosíssimo para o bebê.
Eu fico aqui matutando: essas pessoas são excessivamente crédulas e ingênuas e acreditam mesmo nesses argumentos ou estão apenas querendo se justificar para os outros??
Se for a primeira opção, eu posso até passar batido. Ingenuidade é coisa que a gente só aprende a superar com o tempo, mesmo. E tempo, cada um tem o seu. Nisso eu não me meto.
Agora, se for a segunda opção, aí comigo não tem jeito. A coisa degringola de vez. Eu fico pê da vida e acabo, como é um hábito meu (do qual eu não me orgulho e que pretendo melhorar um dia, mas não hoje...), dizendo 'na lata' tudo o que penso a respeito. E a pessoa acaba ouvindo o que quer e o que não quer.
É que eu acho que seria mais corajoso e mais adulto que essas pessoas tivessem a coragem de dar a cara para bater e assumir a própria opção. Que disessem somente que vão fazer cesárea porque a barriga está pesada, porque o desconforto é demais, porque estão ansiosas para ver a carinha do bebê. Ou que dissessem somente: 'vou fazer cesárea porque decidi assim'. E pronto. Sem explicação nem nada. Afinal, a vida é delas mesmo. Elas devem explicação a quem?

Sei que estou sendo rude, radical, intransigente e mais uma série de adjetivos que certamente vão pipocar nos comentários.
É que eu estou cansada. Para cada pessoa que vem procurar minha ajuda, eu não disponho apenas uma série de palavras digitadas com displicência no teclado do computador. Eu me mobilizo, busco as infomações que a pessoa me pede, dou atenção sempre que solicitada, coloco também o meu coração junto da pessoa. Porque é assim que eu sou.
Talvez o erro esteja aí. Talvez a errada seja eu. Talvez eu esteja me doando demais. Talvez.
Mas eu vou continuar. Sei que ainda vou dar com a cara na parede umas tantas vezes.
É que mesmo assim eu ainda acho que vale a pena.
Se uma, uma grávida só conseguir ter seu (verdadeiramente) sonhado parto normal, indo contra todas as probabilidades e estatísticas, eu já vou ficar numa alegria de dar gosto.
Vai entender.
Às vezes, ser bicho sonhador dá um trabalho danado...


Imagem: http://www.neusinhasantos.com.br

segunda-feira, novembro 14



Peraí...
Eu estou quase encontrando o caminho. Quase, quase.
Eu já tropecei em algumas pedras, já caí, já me levantei.
Já tive vontade de parar tudo e deixar pra lá.
Já fiquei feliz de sair gritando e pulando, quando achei que era o caminho certo.
Se era ou não era, eu ainda não sei. E acho que nem quero mais saber.
O que eu sei é que eu estou chegando lá.
Descobrindo um caminho que eu mesma estou fazendo. Passo por passo.
E a verdade é que não tem nada melhor que isso.
No final das contas, caminhar e descobrir.
Descobrir e caminhar.

Imagem: http://www.casadacultura.org

quarta-feira, novembro 9



Coisa mais saborosa é a gente poder se reinventar.
Tomar um caminho novo e se encontrar.
Se descobrir diferente, ampliar horizontes, criar possibilidades. De ser.
Saber que nada é definitivo e tudo está em aberto, por definição.
Tudo pode ser. Tudo e tudo ainda pode ser.
Escolher a estrada que quiser. Mudar de idéia no meio do caminho. Voltar para trás e começar tudo de novo. Sentar no meio da estrada e simplesmente respirar a vida.
Tudo é possibilidade. Todo caminho é um caminho.
Que o meu mundo é meu, só meu. Inteiro e intenso. Cada cor e cada traço. E dele eu faço sempre e sempre o que quiser.
Ô, delícia.


(* imagem extraída de http://www.ingeniu.com)

terça-feira, novembro 8

... e cada um com seu cada um



Tem aprendizados que são para uma vida inteira. Muita água tem que rolar para a gente aprender a lidar com certas coisas.
Para mim, lidar com a insegurança é um desses aprendizados. Algo que eu venho lutando para aprender desde que me entendo por gente.
Acho que é um impulso natural do ser humano, esse de querer agradar o outro. Desejar ser amado, admirado. Desejar provar para o outro que pode, que é, que sabe.
Isso cansa. Cansa tanto. Melhor mesmo é poder viver a própria vida, seguir o próprio caminho, fazer as próprias escolhas sem ter que dar satisfação a ninguém. Porque a grande verdade, que é a mais simples do mundo mas nem sempre a gente tem olhos de ver, é que ninguém tem nada com isso. A minha vida é isso mesmo, minha. Nem mais, nem menos. Minha e só. E ponto final.
Simples, não? Mas até chegar aí, que canseira que dá.
Eu venho aprendendo certas coisas pouco a pouco. No meu ritmo, que aliás para certas coisas não é dos mais rápidos do mundo, e está muito bem assim.
Venho aprendendo a gastar menos energia provando, exibindo, demonstrando. E a economizar meu tempo para apenas ser. O que sou, que é tudo o que posso ser.
Uma alegria sem tamanho que eu venho descobrindo há um tempo é a de aceitar. Aceitar a mim mesma, abrir os braços para quem eu sou. Conhecer, entender e amar. Com generosidade e respeito.
Não falo de conformismo. Pelo contrário. Quando a gente descobre essa força que tem a aceitação e a amorosidade por quem a gente é de verdade, aí é que encontra de fato em si a possibilidade de mudança. De deixar de lado aquilo que não quer. Mas que não quer por si, e não pelos outros.
Defeitos, a gente tem. Todos. Todos, sem exceção. Aliás, se houver por aí uma exceção a essa regra, eu é que não quero conhecê-la, porque deve ser o ser mais insuportável da face da Terra. Defeitos fazem a pessoa humana, possível. Levam adiante, trazem o desejo de mudança. A possibilidade do crescimento.
O que faz a gente, de fato, crescer, melhorar e evoluir, é saber reconhecer. O que deve ser mudado e o que não. Porque tem defeitos que não são para serem mudados, mesmo. Fazem parte da singularidade de quem a gente é. Daquilo que nos faz únicos e especiais. E quando a gente se dá conta disso, percebe que o rótulo de 'defeito' nem cabe mais. E aquilo que a gente passou tanto tempo acreditando que precisava combater, corrigir e consertar, passa a ser nada mais que uma característica. Entre tantas que fazem de cada indivíduo um ser cheio de poréns, de desvios e singularidades, e maravilhoso por isso.
O fato é que eu hoje acordei e pensei: 'de hoje em diante, eu não quero mais provar nada para ninguém'. Veio assim. Essa vontade, esse desejo de me entregar apenas a ser. E viver feliz com isso.
Eu não sei quanto tempo vai durar essa resolução. Mas só o fato de ter me dado esse direito já faz uma diferença enorme. Para mim faz.
Acordar querendo ser quem eu sou e nada mais.
Sensação boa. Demais da conta.


(* imagem extraída de http://geocities.yahoo.com.br/tenini_online/flagrantes)

segunda-feira, novembro 7



"Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe aonde quer ir"
(Sêneca, filósofo romano)

Apenas algo que eu queria dizer. Hoje.
Apenas isso.
(* imagem extraída de http://riscos2.blogs.sapo.pt)
PS: para os mais distraídos, aviso que mudei a descrição no "EU", aí à esquerda. Como sou mesmo um ser instável e mutante por definição, decidi que vou mudando ao sabor do vento. Colocando a cada momento o trecho, frase ou palavra que me definir melhor por hora. Eu e todos os meus outros eus. Cada um na sua, mas sempre com alguma coisa em comum.