medo s.a.
Sei lá o que me fez, naquele momento, pegar esse papel e escrever. O fato é que fui listando, um a um, todos os medos que eu tinha. E não eram poucos. Abaixo, o que eu escrevi naquela época:
Eu tenho medo... do que eu não conheço; da dor; da morte; da perda; de não sonhar; de sonhar e não realizar; de estar só; de estar com alguém; de falar o que penso; de ser julgada por isso; de ser condenada; de não ter nada nas mãos; de não saber o que fazer com o que eu tenho nas mãos; de ficar doente; de me entregar; de não deixar ninguém me conhecer de verdade; da despedida; da mudança; do novo; de ficar velha; de ver o tempo passar; de ficar parada no tempo; de me mover e me machucar; de não conseguir; de não tentar; de criar uma máscara; de me defender; de não me defender; de olhar e ver; de olhar e não ver; de sentir; de me expor; de ser olhada; de ter que provar do que sou capaz; de perder a esperança; de olhar para trás; do arrependimento; de barata; de sofrer; de ser feliz; de que as coisas acabem; de mariposa; de besouro; de tubarão; do infinito; de não compreender; de compreender mais do que eu posso suportar; de fugir; de ficar para trás; de ser esquecida; de mar; de não ser amada; de não ser aceita; de errar; de cair; de não conseguir levantar; de perder a fé; de não ter mais vontade; de encarar os fatos; de me conhecer; de conhecer os outros; de não me reconhecer; de estar infeliz; de estar feliz e inconsciente; de ter mais consciência do que eu suporto; de explodir; de amar; de não amar; de desistir; de persistir e não conseguir; de persistir, conseguir e ver que não era nada daquilo; do fim; de me perder; de não querer mais; de me iludir; de ser enganada; do abismo; de ser pressionada; de ser descoberta; de não ser tocada; de não ter uma mão para segurar; de seguir em frente; de recuar; de atacar; de lutar; de que o medo me paralise.
É um barato olhar para essas palavras rabiscadas depois de tanto tempo e relembrar um pouco de quem eu era. E ver quantos medos eu superei e deixaram de fazer sentido. E quantos outros eu ainda tenho e talvez nunca supere, por mais que tente. E garimpar, entre tantos medos, alguns que reconheço como parte fundamental de quem eu sou, pelos quais arrisco até sentir certa ternura e carinho.
É fantástico compreender, depois de tanto tempo, que alguns medos foram feitos para ser superados e outros não. Que o medo faz parte da caminhada humana, e o que importa não é a quantidade de medos que a gente tem, mas como aprende a lidar com eles. E o caminho que encontra para que eles não nos paralisem.
Bom saber que venho descobrindo meu caminho. Que tem desvios, tem barreiras, tem perigos. Mas que é o meu caminho. Que me ensina a ser quem eu sou, a cada passo e cada curva desvendada.
Bom saber que a vida não tem mais sete cabeças. Ainda assusta, às vezes. Mas eu já aprendi a não me esconder.
É que, hoje, precisa muito mais do que sete cabeças e um punhado de crises para me fazer recuar.
Muito, muito mais.
Imagem: http://harryluv.festim.net
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