terça-feira, outubro 18

o tal do desarmamento...


Eu estava certa. Bem certa. Sem sombra de dúvida. Sim, claro. Como não?
Só que, de repente, me foi plantada na cabeça a sementinha da dúvida. Aquela sementinha assim, bem pequenininha, quase imperceptível, mas que, uma vez plantada, cresce, cresce. E cresce.
Eu já não sei. Mesmo. Hoje, votaria sim. Mas posso dizer que agora já entendo certas motivações pessoais para o não. Que não entendia antes.
Minhas razões para o sim são bem lógicas para mim. Sou a favor do desarmamento porque não acredito que possuir uma arma garanta segurança a alguém. Aliás, pelo contrário.
O que me chamou a atenção foi um paralelo traçado com uma outra opinião a respeito de outro assunto. Uma opinião minha mesmo, exaustivamente pensada e repensada, muito clara e bem resolvida.
Falo da legalização do aborto. Eu sou a favor. Mas pra mim está bem claro que ser a favor da legalização do aborto não significa ser a favor do aborto. Pau é pau, pedra é pedra. E ambos são o fim do caminho, mas isso já não vem ao caso.
Voltando ao aborto: eu tenho muito claro pra mim que não sou a favor DO ABORTO. Eu não acho que seja uma opção legal, nem válida, e jamais faria um. Mas defendo convictamente a liberdade de cada mulher decidir o que é melhor para si. Acredito, sim, que uma mulher que se vê às voltas com uma gravidez indesejada (ainda que esteja nessa situação por irresponsabilidade, porque essa, pra mim, já é uma discussão à parte) tenha o direito de decidir se quer levar essa gravidez adiante ou não. É um direito sobre o próprio corpo, sobre a própria vida, pra mim, inalienável.
Agora retornando ao assunto da conversa que, afinal, é mesmo o desarmamento. De repente eu compreendi que muita gente (vejam bem, não todos) que defende o desarmamento tem uma visão análoga a essa que eu descrevi aí em cima. Não são a favor das armas, jamais teriam uma em casa e não acreditam que andar armado seja solução contra a violência. Mas defendem o direito do vizinho de pensar diferente. E acreditam que cada um deve poder decidir o que acha melhor para si, andar armado ou não. E, de certa forma, também é uma decisão sobre a própria vida, sobre a própria segurança. Inalienável? Ainda não sei.
O ponto em que esse raciocínio tropeça, pra mim, é que eu acredito que, se o meu vizinho tem uma arma, está colocando não só a própria vida em risco, mas a minha também. Se a casa dele for assaltada e ele resolver entrar em um tiroteio com o assaltante, pode sobrar bala pro meu lado. Da mesma forma, se eu páro em um farol e o motorista do meu lado resolve sacar a arma para reagir ao assaltante que surgiu de repente, quem pode sair perdendo sou eu. Então a afirmação de que é uma decisão sobre a própria vida é, no mínimo, questionável.
Toda questão tem mais de um lado. Essa, pelo jeito, tem muitos. Vai além de uma luta maniqueísta entre o bem e o mal, os 'bandidos armados' e os 'bonzinhos pacíficos'.
Pra mim, o que continua claro é que ninguém está mais protegido da violência porque tem uma arma, que arma em casa ameaça mais a vida do morador que a do bandido e que, se o Estado não garante a segurança do cidadão, que seria sua responsabilidade, o caminho é lutar para que passe a garantir, e não aderir ao 'cada um por si, e deus sabe lá onde...'.
Hoje, eu continuo votando pelo sim.
Mas descobri que não é tão simples assim.
Aliás, nada é.

(* imagem extraída de http://medias.lemonde.fr)