sexta-feira, dezembro 9



Um dia desses, eu estava no saguão de um laboratório aqui perto de casa, esperando atendimento. Perto de nós, em um sofá bem ao lado, uma mulher lia uma revista dessas (muito mal) apelidadas de 'femininas' (um dia desses reservo um tempo para escrever sobre esse que, a meu ver, é um equívoco colossal a respeito do que é a 'feminilidade'). Ao seu lado, um carrinho. E dentro dele um bebê que devia ter no máximo uns três meses, se tanto.

Eu fiquei olhando, meio perdida entre pensamentos, relembrando os três meses das pimentinhas, curtindo o gostinho da saudade. Foi quando o garoto (pelo menos me pareceu ser um garoto) começou a chorar. Aquele chorinho sentido, pedinte, carente. Choro de bebê de três meses.

A mãe não se alterou. Sem sequer olhar para o bebê, pegou a mala e foi preparar uma mamadeira com leite em pó. Abre lata, abre mamadeira, põe água, põe leite, mistura, chacoalha. Tudo isso sem nem tomar conhecimento daquela pequena criaturinha que se esgoelava, sozinha, no carrinho.

Eu nem sei explicar o quanto aquilo me doeu. Aquele chorinho pedindo consolo, carinho, peito. Ou mesmo uma palavra de conforto que fosse. E aquela mãe mais preocupada em acertar a proporção correta entre a quantidade de água e a quantidade de leite.

A situação me tocou tanto que senti imediatamente meus peitos doloridos. Dizem que, para a mulher que amamenta, o choro das crianças tem um efeito produtor de ocitocina, que é o hormônio que estimula a produção do leite. Se é verdade ou se o efeito foi puramente psicológico, eu não sei. O fato é que ouvir aquele bebê chorar sozinho no carrinho sem que lhe fosse dita ao menos uma palavra de consolo fez meus peitos pingarem leite.

Senti pena. Sim, pena. Não uma pena por me sentir superior, melhor, mais do que ela. Não, nada disso, até porque julgar essa atitude sem saber nada a respeito dessa mulher, da sua história, dos seus porquês e dos seus sentires, seria uma ignorância. Mais do que isso, uma violência. Não é disso que falo. Falo de pena no sentido de estar penalizado, mesmo. No sentido de se solidarizar. Aquela pena de quem sabe e conhece o prazer de pegar um pequeno que chora nos braços e sentir aquela boquinha quente buscando avidamente o bico do seio. Como quem busca a vida.

Enfim. O bebê mamou, a mulher se foi, filho nos braços, quietinho e de barriga cheia. E eu fiquei ali, meio no vazio.

E fiquei pensando que sociedade é essa que acredita e faz acreditar que a maternidade é apenas isso: prover a sobrevivência. Alimentar o corpo, suprir as necessidades físicas e pronto. Obrigação cumprida.

Pensei também como é bom pensar diferente. Ter horizontes abertos.

E como é bom me sentir não apenas a 'responsável' pelas minhas meninas. Mas também o porto seguro, o colo e aconchego, a referência, o alimento. Para o corpo e para a alma.

Posso respeitar quem pensa diferente. Mas eu só sei ser mãe assim.



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