terça-feira, fevereiro 7



Se às vezes me pergunto para onde levará meu caminho, e meus passos tornam-se relutantes, é porque sou humana, e não tenho medo de reconhecer a infinitude do que ainda não sei.
Se às vezes sento e choro, sem vergonha e de alma exposta, é porque minha couraça de força e segurança esconde uma pequena menina tímida, ansiosa por lançar-se ao mundo, de cabeleira desgrenhada solta ao vento, mas que por vezes deixa-se amedrontar diante da fúria do mundo.
Se às vezes tenho vontade de cantar, de dançar, de pular amarelinha e ser criança novamente, é porque não me canso de acreditar, e insisto em manter dentro da alma um cantinho seguro para alimentar minha esperança.
Se às vezes escureço, anoiteço e me escondo, dando as costas a tudo o que me cerca, é porque sou muito, mas não sou tudo, e os dias, vez ou outra, atropelam-me sem piedade.
Se às vezes digo o que não penso e penso o que não digo, é porque nem sempre tenho as palavras certas. E, quando as tenho, às vezes falta-me a coragem para transformá-las em algo mais que palavras.
Se às vezes me calo e deixo que o silêncio me tome em seus braços e baile comigo por suas esquinas secretas, é porque também fico sem ar, e preciso parar para tomar fôlego de tempos em tempos.
Se às vezes recuo, me encolho no canto e me deixo acuar feito bicho assustado, é porque há coisas no mundo e atitudes nas pessoas que me ferem fundo, e com as quais eu não consigo nem quero me acostumar.
Se às vezes solto palavras sem sentido e desisto de me fazer entender, é porque descobri, em alguma curva do meu caminho, que nem tudo nesse mundo foi feito para significar. Algumas coisas vieram para apenas ser.
Se às vezes me solto ao sabor do vento, sentindo o gosto suave da liberdade de quem se permite, e vivo minhas linhas e nuances sem pudor de ser quem eu sou, é porque ainda resta em mim o que sempre tive de melhor: o desejo de ser eu mesma.
Se estou aqui hoje, já não sei bem como nem porquê. Sei que sou, mas isso é apenas uma parte do que desejo saber.
Se tenho orgulho e guardo com carinho o sabor de cada passo impresso na minha estrada, é porque neles pus e ponho meu coração, e não sei trilhar caminho algum sem que cada passo seja vivido como se fosse o último.
Se vou sorrir ou chorar, é porque cada coisa tem de ser vivida a seu tempo.
Sem pedir licença, nem desculpas.
Apenas ser. O que sei.
E o que não sei.
Que, aliás, desconfio que seja a melhor parte.