sexta-feira, março 3

Releio o bichinho aí ao lado, nove anos após a primeira leitura.
É um barato perceber como a gente cresce, aprende, amadurece e desvenda ao longo dos anos, e como essas experiências mudam a nossa forma de se relacionar com o mundo.
Ter a oportunidade de um reencontro com uma obra de arte depois de um tempo é uma experiência pra lá de bacana. A obra adquire novos contextos, novos significados, novos desdobramentos. Novas curvas e novas nuances (um parênteses: falo, é claro, de arte de qualidade, que obra de arte medíocre se esgota rapidinho, na primeira leitura; aliás, no mais das vezes, nos primeiros minutos).
O fato é que ler, hoje, o dito cujo aí de cima, está sendo uma oportunidade bárbara. De reconhecer a obra e entender o que ela significa para quem eu sou hoje. De desvendar pela primeira vez um universo que já conheço, por mais paradoxal que possa parecer. De descobrir o texto e me redescobrir, como ao mirar a mim mesma num espelho multiforme. Uma oportunidade deliciosa de enxergar, através das letras do texto, o que eu era. E de compreender melhor o que sou, e o que significa ser o que sou.
Estou adorando descobrir uma supresa por trás de cada trecho, de cada frase, de cada ponto. Surpresas a respeito do livro, do autor, da estória. E a meu próprio respeito, também.
É que, nove anos atrás, eu era outra. Um universo me separa de quem eu era. Mas a palavra escrita nos aproxima, nos reconcilia.
Espero ainda ter a oportunidade de reler esse bichinho uma infinidade de vezes. E descobrir mais e mais esquinas e desvios.
Os de Kafka e os meus.
Aliás, estes principalmente.