quinta-feira, abril 13

mistura fina



Tem certos dias em que eu penso. Não em minha gente, mas em mim mesma. Em tudo o que quis, fiz ou vivi. No que já fui e em tudo o que deixei de ser.
Tento compreender os caminhos que me trouxeram aqui, a viver o que vivo hoje. A ser o que sou, essa mistura caótica entre o que quis, o que pude e o que sonhei. Bate tudo bem batidinho e dá nisso: alguém meio entre caminhos, mas vivendo e feliz. Simplesmente.
Entre caminhos, porque desde muito cedo escolhi coisas na minha vida. E, por ter escolhido cedo, muitas delas foram mudando ao longo dos anos. Mas, também por ter escolhido cedo, eram vitais e verdadeiras, por isso jamais despareceram por completo. Coexistem comigo, ainda hoje, apesar de terem sido, por vezes, esquecidas, repensadas ou deixadas de lado, mesmo. Nem sempre sem dor. Aliás, na maioria das vezes, com. Alguma, pelo menos.
O fato é que, bem ou mal, tropeçando ali, caindo aqui e levantando mais adiante, eu cheguei a algum lugar. Não a um destino final, porque a vida é matéria de continuidade. Onde há fim não há vida.
Mas a algum lugar eu cheguei, e me dou conta, sorrindo meio sem perceber, que tenho a meu redor um cantinho de aconchego. Um cantinho com espaço para sonhos, embora acolha também uma realidade da qual não posso pensar em abrir mão. Um cantinho onde convivem harmoniosamente a menina tímida e insegura que pisava a passos confusos uma estrada florida e inconstante e a mulher apaixonada, contraditória e intensa que vive seus dias entre abismos e paragens. Tudo, e sempre, sem perder a doçura. E o sonho.
Fico feliz de saber que, de repente, posso ser tudo o que sou. Que não preciso escolher. Talvez.
Que posso viver assim, lá e cá. Que posso ser tudo, e mais um pouco. Que a vida pode ter todas as cores e nuances que eu desejar que tenha. Que eu posso ir, voltar, refazer e começar a sonhar tudo de novo.
Tem certos dias em que a gente respira aliviado. A tempestade passa, chega a calmaria e a gente simplesmente respira. Que é a beleza grande da vida que a gente não pode perder.
Tem certos dias em que a gente simplesmente compreende o começo, meio e fim das coisas. E tudo parece que faz sentido.
Tem dias que a gente acorda e vê que a vida é bonita demais.
Só isso. A gente olha e vê.