quinta-feira, agosto 3

vaca de divinas tetas

Há milhares de coisas que eu poderia dizer sobre amamentação. Poderia trazer números e estatísticas a respeito dos benefícios, recomendações da OMS, depoimentos de médicos. Poderia falar sobre o valor nutricional do leite materno, sobre a saúde das crianças amamentadas ao seio, sobre a prevenção de doenças, anticorpos. Poderia falar sobre os benefícios para a mulher, o emagrecimento pós-parto, a prevenção do câncer de mama.
Mas não. Não é nada disso que eu tenho vontade de dizer quando o assunto é amamentação. Porque o mais importante, o essencial, pra mim, é outra coisa. Bem mais simples.
Se eu dissesse que as razões acima foram as únicas que me fizeram insistir pela amamentação, estaria mentindo. Se dissesse que foram as principais, também.
A verdade é que eu sempre desejei a amamentação como quem deseja um prazer secreto. Como quem anseia por descobrir a maravilha de um prazer poderoso e quase inconfessável. Eu, de fora, desejava o poder da mãe que amamenta. O poder de ser o veículo da vida. De aninhar, de aconchegar. A beleza infinita de alimentar, não apenas o corpo, mas a alma.
Eu acho lindo mulher com bebê no peito. Sempre achei. É uma cena delicada, suave e poderosa a um só tempo. É a vida seguindo seu curso, a natureza expressando seu sentido, sua ordem, seus porquês.
Eu, com minhas meninas aconchegadinhas ao seio, tenho uma impressão deliciosa de completude. Como se estivesse fazendo exatamente o que vim ao mundo para fazer. Como se, por alguns instantes, a loucura da correria do dia-a-dia deixasse de existir e tudo parasse para que ficássemos nós duas (ou nós três) ali. Uma só vida.
Desde que minhas meninas nasceram, a amamentação tem sido uma das coisas mais prazeirosas pra mim. É mesmo uma espécie de êxtase sentir o contato pele com pele, o carinho da mãozinha pequenina, a respiração suave, a doçura do olhar de canto de olho, o sorrisinho escapando maroto. São momentos que valem uma vida. Que me fazem pensar que ser mãe é mesmo a brincadeira mais trabalhosa e bacana que já inventaram.
É um momento nosso, só nosso. Elas para mim, e eu para elas. E nós, assim, juntinhas, temos tudo o que é preciso.
Fico pensando, não sem sentir um fundinho de tristeza, em quantas e quantas mães perdem a oportunidade de sentir esse prazer. Muitas, não por falta de vontade, o que é ainda mais triste. Se perdem no meio do caminho por falta de incentivo, de apoio, de informação. O que poderia ser uma experiência de vida passa a ser apenas uma pedra, tirada do caminho para não atrapalhar a passagem.
Há poucas coisas na vida que me dão tanto prazer quanto que ver minhas filhas descobrindo a vida e suas maravilhas. E é indescritível a felicidade que sinto ao pensar que a primeira descoberta delas nesse mundinho maluco foi através de mim. Uma fonte de aconchego e segurança que só eu poderia dar.
Amamentação é alimentação, sim. Mas é muito mais do que isso. Amamentação é ligação, é contato. É carinho, é toque, é entrega. É ensinar amor, ternura, generosidade. Ensinar comunhão.
Minhas meninas têm, hoje, 1 ano e dois meses. E mamam. E mamam. E como mamam. E não vejo a menor necessidade de parar tão cedo. Elas estão felizes assim, eu estou feliz assim. Então, tá. Aos muitos comentários descabidos e inconvenientes que ouço vez ou outra por aí, nem dou ouvidos. Apenas fico aqui, eu e meus botões, pensando que raio de moral é essa que não se importa com peitos e bundas de fora no carnaval, cenas apelativas em novelas, filmes e séries de TV e vai implicar justamente com uma cena que, para mim, tem algo de sublime: uma boquinha pequenina buscando carinho e alimento ao seio da mãe.
Apenas uma das milhares de contradições dessa sociedade moderna que eu, de teimosa, insisto em tentar compreender, no mais das vezes sem sucesso.
A minha sorte é não me importar. Como não me importei com as vozes ameaçadoras que insistiam em repetir que eu não teria leite, que minhas meninas não se desenvolveriam adequadamente. Como não me importei com as sentenças pessimistas de que a Estrela não voltaria a pegar o peito depois das três semanas mamando meu leite na mamadeira devido à dificuldade de pega. Como não me importei com comentários infelizes a respeito da 'dependência doentia provocada pela amamentação prolongada' (aliás, amamentação prolongada é só depois de dois anos, viu, gente? antes disso é o mínimo recomendado pela organização mundial de saúde). Como não me importo, e apenas faço que não é comigo, quando percebo um olhar atravessado, seja na rua, no shopping, em um parque ou mesmo no saguão de entrada do prédio.
Eu amamento. Amamento porque gosto, amamento porque me dá prazer, amamento porque faz a mim e minhas pequenas felizes. Amamento porque estamos muito bem assim, obrigada. Amamento porque não vejo qualquer motivo para pensar em parar.
Eu amamento. Porque amamentar é a minha melhor forma de amor e doação.
Não digo que só ame quem amamenta, não. Esse é apenas um caminho, entre tantos outros.
Mas é o meu. O único que eu conheço e que me faz tão feliz. Inteira. Que me faz mãe. Não mais ou menos mãe do que ninguém. Apenas tão mãe quanto eu posso e desejo ser.
Deixo vocês com imagens que me enchem os olhos e o coração, e que, afinal, valem mesmo mais do que mil palavras.


PS: escrevi esse post para a blogagem coletiva sobre amamentação organizada pela Denise, do Síndrome de Estocolmo. para saber quem mais participou, passa lá.
PS2: Cissinha, minha linda, tá de seu agrado??